Sobre o posicionamento da Reitoria contra CPI da Funai e do Incra
18/05/2017


A Reitoria da UFRJ alerta que a ciência brasileira está em risco. O relatório do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), votado no dia 17/5, indiciou indígenas, antropólogos, procuradores da República, servidores da Funai, dirigentes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-CNBB), um ex-ministro da Justiça e defensores dos povos originários por crime no processo de demarcação de terras dos povos nativos. É importante destacar que o relator é autor da proposta que estabelece que o trabalhador rural pode ser remunerado por meio de moradia e alimentação.


O relatório atende aos anseios da Frente Parlamentar da Agropecuária e está inserido na ofensiva do agronegócio contra os territórios dos povos indígenas. A aprovação da MP 756/16, que reduz as áreas de proteção ambiental da Amazônia, é uma das manifestações mais graves dessa conjuntura, da qual faz parte o cenário nebuloso das negociações para viabilizar a contrarreforma da Previdência.


Nota-se hoje no Brasil uma ofensiva irracionalista contra a ciência, conjuntura que acende uma luz vermelha para a liberdade da produção do conhecimento. O relatório da CPI da Funai e Incra criminaliza a antropologia brasileira.


Ao encaminhar a criminalização de antropólogos, afronta o trabalho dessa ciência no país, em particular o método etnográfico, que requer o reconhecimento da igual humanidade dos povos indígenas e o diálogo verdadeiro com eles em suas lutas pela demarcação de terras ocupadas por seus ancestrais, tal como propugnado pela Constituição Federal.


A Reitoria conclama todas as entidades científicas e os setores democráticos a se organizarem em prol da defesa da antropologia, da Funai e do direito constitucional dos povos indígenas, camponeses e quilombolas às suas terras.


Rio de Janeiro, 18/5/2017


Roberto Leher


Reitor da UFRJ