Brasileiro leva mais um prêmio
30/09/2010

Miguel Nicolelis é agraciado novamente nos EUA e investirá no estudo do Parkinson

Fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS) e professor da Universidade Duke, nos EUA, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis ganhou mais um prêmio. Desta vez, cerca de US$ 4 milhões para pesquisa clínica no tratamento do Parkinson, mal que não tem cura e afeta pelo menos 1% da população mundial, sendo 200 mil no Brasil.

Nicolelis recebeu o prêmio do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) e vai usá-lo para avançar no desenvolvimento de dispositivos que melhorem a habilidade motora dos pacientes.

Há dois meses, Nicolelis havia recebido, também do NIH, US$ 2,5 milhões para estudos da interface cérebromáquina. Ele foi o primeiro brasileiro agraciado e entrou seleta lista de 81 cientistas com o Pioneer Award.

Agora com o prêmio Director's Transformative R01 Award ele quer acelerar suas pesquisas sobre Parkinson - que se caracteriza pela disfunção ou morte dos neurônios produtores de dopamina - e algumas formas de paralisia. A causa do mal é indefinida, mas se sabe que há um componente genético.

A doença causa tremores, principalmente nas mãos; lentidão de movimentos; dificuldade de caminhar; perda de equilíbrio e rigidez muscular.

Nicolelis imagina que poderá usar um dispositivo similar a um estimulador na medula espinhal para tratar a dor crônica.

- A estimulação na coluna dorsal é fácil de usar, muito menos invasiva que outras opções à medicação, como a estimulação cerebral profunda do cérebro, e tem potencial de uso amplo em associação com drogas já receitadas contra o Parkinson - diz. - Há grande número de brasileiros com Parkinson e muitos sem diagnóstico.

Na sua opinião, esse é um problema devastador.

- O tratamento do Parkinson é muito caro, principalmente na fase final - diz o cientista, que em 2011 vai inaugurar o maior centro de pesquisa do cérebro do mundo, com a ampliação do campus do IINNELS. - Teremos grande população de idosos e quero fazer boa parte dos estudos clínicos no Brasil.

Ele se disse surpreso com mais um prêmio do NIH.

- Nem sonhava com isso, porque ele é destinado à pesquisa clínica, que pode levar a tratamentos. Na lista de ganhadores, somos o único grupo de neurociências - diz Nicolelis, um nome sempre lembrado para o Prêmio Nobel.

Nos últimos 20 anos, ele pesquisa os sistemas que permitem ao cérebro de mamíferos produzir comportamentos sensoriais, motores e cognitivos. E já demonstrou que humanos e outros primatas podem usar a atividade elétrica de seus cérebros para controlar equipamentos artificiais e complexos, como próteses.

Nas paralisias, uma das pesquisas de Nicolelis é com avatares. Por meio do cérebro, ele acredita que será possível controlar uma veste robótica para realizar movimentos.

E um de seus objetivos é atrair ao Brasil grupos privados interessados em investir em tecnologia.

- O setor privado nos EUA investe o dobro do setor público em tecnologias. Precisamos avançar nesse aspecto - afirma Nicolelis.

O NIH reconhece projetos inovadores e "originais com potencial de impacto extraordinário, abordando tanto a ciência básica ou desafios". E distribuirá US$ 64 milhões em cinco anos para 20 grupos.

(Antonio Marinho)
(O Globo, 30/9)