Presidente da FINEP fala dos desafios na área de inovação
18/05/2011

"As instituições brasileiras podem não estar atentas para as mudanças". Esse foi o alerta deixado pelo presidente da FINEP, Glauco Arbix, na sessão de abertura do XXIII Fórum Nacional - Visão de Brasil Desenvolvido para Participar da Competição do Século, ontem (16/5), no BNDES. Segundo ele, não será possível promover um salto tecnológico se as instituições não estiverem preparadas.

- O amadurecimento das instituições brasileiras fornece as condições necessárias para o desenvolvimento econômico-social. Há muitas instituições criadas, algumas delas envelheceram, outras morreram, mas a transformação institucional ainda continua sendo um desafio -, afirmou Arbix. Segundo ele, o Brasil avançou nas últimas décadas e, mesmo com deficiências, criou um marco legal para a inovação. "No entanto, existe um déficit institucional que não foi solucionado", disse.

Alinhado com o discurso do ministro Aloizio Mercadante, que em sua participação no XXIII Fórum, enfatizou a necessidade de mudanças que promovam uma sociedade focada no conhecimento, uma economia que priorize as energias limpas e uma melhor distribuição de renda, o presidente Glauco Arbix disse que a FINEP precisa ter foco e priorizar as áreas intensivas em conhecimento para melhorar a qualidade de seus investimentos em ciência, tecnologia e inovação. E acrescentou que isso exigirá uma gestão eficiente e com maior transparência. "É necessário aumentar os recursos e aperfeiçoar os procedimentos", afirmou o presidente, que defendeu ainda a necessidade de investimentos pela FINEP nos próximos 10 anos da ordem de R$ 40 bilhões. "Para isso, precisamos que a FINEP se transforme em um banco público da Inovação", disse.

- Há necessidade de o País aplicar ao menos 30% dos investimentos globais nas áreas de ciência e tecnologia. Enquanto em países como os Estados Unidos os investimentos em pesquisa e desenvolvimento giram em torno de US$400 bilhões, no Brasil esse montante não passou de US$24,2 bilhões em 2009 - disse.

Há um consenso no Governo de que os setores público e privado precisam se unir nessa empreitada. Tanto assim que Mercadante e Arbix defenderam uma maior inserção do setor privado em projetos de Inovação Tecnológica.

- Se não for desta forma, nós vamos mais uma vez perder o bonde da história. Nos últimos 10 anos, o investimento em C,T&I contribuiu para melhorar o cenário, mas foi insuficiente para diminuir o gap tecnológico que separa o Brasil dos países que estão na fronteira do conhecimento. Ele é o mesmo de 20 anos atrás. Se por um lado avançamos, por outro esses países também não ficaram parados - disse o presidente.

Em seu discurso, Arbix falou de três regimes de ciência e tecnologia existentes no mundo. O primeiro deles é focado em uma infraestrutura científica pequena e com pouca capacidade para alimentar a produção de tecnologia. O segundo, onde de acordo com Arbix o Brasil se enquadra, dispõe de uma boa produção científica e que contribui para uma parcela da produção tecnológica. No entanto, essas duas vertentes ainda não interagem de maneira a sustentar o crescimento econômico. Segundo ele, apenas no terceiro regime é que estas conexões e interações entre a produção científica e a tecnológica já estão estabelecidas e dão suporte permanente para a inovação.

O presidente alertou ainda para o baixo investimento por parte das empresas em P&D. Em 2010, o Brasil investiu 1,3% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em C,T&I. Desses, mais de 60% dos recursos vieram do setor público. Da fatia que coube às empresas, uma parcela significativa se refere a investimentos feitos pela Petrobras, que é pública. "Nos países mais avançados, mais de 70% dos dispêndios em P&D são realizados pelas empresas", disse Arbix. Outro problema crítico, apontado pelo presidente, é que apesar de os investimentos em P&D no Brasil ter crescido bastante nos últimos anos, a taxa de inovação nas empresas, medida pelo IBGE, continua igual. Hoje o Brasil também tem 58,3% dos seus pesquisadores trabalhando em universidades, 5,1% no governo e apenas 37,3% se encontram nas empresas. Nos Estados Unidos, por exemplo, 79,7% dos pesquisadores estão no setor empresarial. Na Coréia, este percentual chega a 74,9%, seguido do Japão, com 68,1% e da China, com 66,4.