Livro sobre paleontologia reúne brasileiros a especialistas de língua portuguesa
13/09/2010

Vilma Homero

Fernando Correia 

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          Paleontologia inclui a reconstituição de dinossauros e
               pterossauros encontrados em Portugal
Os números impressionam. São 734 páginas, 57 autores e mais de 20 instituições brasileiras, sem contar as quatro portuguesas. Mas tão importante quanto o visível esforço em atualizar a terceira edição de Paleontologia, livro que fornece material didático de caráter abrangente a estudantes de graduação na área, é o fato de ser o primeiro a incluir e dar visibilidade a material e acervos exclusivamente brasileiros. Lançado no fim do mês de agosto, Paleontologia é o primeiro de três volumes inteiramente dedicados ao tema, publicado com recursos do programa de Auxílio à Editoração (APQ 3). O segundo e o terceiro volumes estão previstos para sair, juntos, dentro dos próx imos três meses.

Com capa em relevo e farto em ilustrações - várias delas do paleoartista Fernando Correia, que também é o autor do dinossauro estampado na capa -, este primeiro volume traz os fundamentos dos estudos paleontológicos, explicando sobre o significado dos fósseis e sua análise tafonômica, ou seja, falando sobre a ciência que estuda o processo de preservação de restos orgânicos e como esses processos afetaram a qualidade do registro fóssil. Em outras palavras, o livro mostra os diversos grupos que existiram nos últimos 3,8 bilhões de anos, inserindo-os no contexto geológico e paleobiológico em que viveram. "Procuramos suprir lacunas importantes: uma delas a de produzir material didático com o conteúdo programático do curso de graduação, mas que também pode ser utilizado pelos estudantes da pós-graduação, complementado por bibliografias mais amplas e específicas", diz Ismar de Souza Carvalho, paleontólogo do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), editor e idealizador do projeto.

"Educação e ensino sempre me interessaram muito. O livro resulta desse interesse, da proposta de reunir informação consistente, identificada com o documentário paleontológico e as coleções nacionais, procurando dar unidade a conceitos e texto". Essa, por sinal, foi outra das lacunas que Ismar e equipe procuraram preencher, a de incluir na obra as coleções brasileiras, desenvolvendo a cultura e dando visibilidade à flora e à fauna que em épocas remotas viveram em solo nacional. "Na prática, isso significa que, em vez de exemplificar com os hábitos de um Tyrannosaurus rex, que durante o período Cretáceo habitou as terras do Hemisfério Norte, a prioridade foi sobre os animais que proliferaram por aqui, como os crocodilomorfos encontrados na Bacia Bauru", explica o paleontólogo.

 Ariel Milani Martine
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No livro, aborda-se a ocorrência de âmbar no Brasil,  
   a análise química e interpretação de sua origem
Este foi um ponto importante, não apenas por incluir os achados dos especialistas brasileiros, mas por investir numa formação direcionada e mais completa de nossos paleontólogos para o ambiente que os cerca. "São realidades distintas. E tudo isso interfere no processo de formação dos alunos de paleontologia, que, na falta de livros mais abrangentes, terminam estudando sobre o que aconteceu na Europa ou nos Estados Unidos, sem conhecer melhor a estratigrafia - ramo da geologia que estuda os estratos ou camadas de rochas - e os fósseis brasileiros. Com a publicação de Paleontologia, estamos rompendo com esse colonialismo cultural e transmitindo informações centradas na nossa realidade geológica. Nesse sentido, é o primeiro trabalho do gênero", fala Ismar. Até o lançamento da primeira ed ição do livro, em 2000, o material didático disponível era basicamente formado por tradução de obras estrangeiras.

Entusiasmado com o projeto, logo Ismar contou com a adesão não apenas dos professores da UFRJ e de várias outras instituições brasileiras - universidades e empresas, como a Petrobras, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) -, mas também de profissionais de países de língua portuguesa. "A ideia era de ir além, de integrar pesquisadores e professores da comunidade lusófona para, num trabalho conjunto e articulado, traçar um livro que suprisse o conteúdo programático da graduação e pudesse ser usado não apenas no Brasil, mas em Portugal, Moçambique ou na Guiné Bissau. Conseguimos uma abrangência de temas que me deixou muito contente", explica Ismar.

Foi também um grande processo de articulação. "Contar com pesquisadores de universidades como a de Coimbra, e de cientistas da Academia de Ciências de Lisboa nos deixa particularmente animados. Isso nos confere respaldo; estamos produzindo uma obra educativa que já está referendada por vários pesquisadores de renome internacional, que desenvolvem linhas de pesquisa bastante distintas", diz. Com isso, além de capítulos específicos sobre os jazigos fossilíferos brasileiros e sobre a cooperação internacional, Paleontologia fala sobre os fósseis de Portugal e analisa o que foi encontrado em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

 Divulgação / UFRJ

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     Fotografia de planta fóssil com 100 milhões de 
     anos, da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil
Se de um lado o livro exigiu um grande trabalho de edição para lhe conferir unidade, por outro, já nasceu um bestseller, o que vem deixando seu idealizador bastante orgulhoso. O que é fácil de entender: se as tiragens iniciais de 2 mil exemplares das duas primeiras edições, e de 3 mil na atual podem até ser consideradas modestas, a história muda de figura quando se pensa num livro didático, e principalmente no alcance que este, em especial, terá: além de leitores no país, Paleontologia também já foi adotado em universidades de Portugal e de países africanos de língua portuguesa.

Em outro capítulo, o leitor confere as características físicas e químicas do âmbar - resina vegetal fossilizada, que tem a propriedade de preservar pequenos organismos e ncapsulados. Seu potencial de preservação é tão grande que até mesmo fragmentos de DNA têm sido recuperados de organismos nele inclusos. 

Para o editor, o trabalho não terminou. Ele agora dá os toques finais aos dois próximos volumes da trilogia. O segundo volume trata de paleoinvertebrados e microfósseis, enquanto o terceiro apresenta os paleovertebrados e a paleobotânica. "Todos eles nos contam a instigante história geológica da vida, detalhando a diversidade e as transformações pelas quais passou o mundo ao longo de milhões de anos. Esperamos despertar o interesse não só de estudantes, mas o de todo aquele interessado pela paleontologia", conclui.

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